Vou me propor a brincar de investigação, e nessa brincadeira quero cavocar meus afetos que pulsam, no momento que pulsam. Não antes, não depois, durante.
Estou incomodada, é difícil perceber o porquê desse incômodo tocar a superfície da minha pele.
Percebo a raiva. Sinto raiva. Mas de onde vem?
A raiva protege meu corpo de não se liquefazer com a culpa.
Liquefazer. Derreter. Mais um pouco e parece que minha pele começa a escorrer. Sentido isso não faz.
Mas e a culpa? Culpa pelo quê? Me coloco a questionar.
E a culpa é por não poder corresponder às expectativas do outro.
E não só pelas expectativas que poderiam ser julgadas como positivas a depender das lentes pelo qual se vê, mas, as expectativas de subir em cima de mim e das minhas necessidades para corresponder aos anseios que não meus.
E se não são meus anseios, porque me culpo?
Porque os pego pra mim e permito pulsar na minha pele um afeto tão intensificado?
Sentimento de culpa que eu crio e carrego por decepcionar e frustrar um outro alguém. Por acaso deve ser um dever meu corresponder a tal situação?
Decepção e frustração que surgem no outro alguém, e não por um ato meu de crueldade, ou pela minha indisposição de contribuir com seu bem-estar.
Causei a decepção e a frustração por olhar pra mim e entender que, a partir daqui eu atravesso o meu limite.
E porque eu iria atravessar os meus limites, sabendo que se eu o fizer estaria colocando em jogo parte do meu progresso de bem-estar?
Tá aí! A raiva.
Raiva para não sentir tristeza, e elas escorrerem pelos meus olhos junto com a pele em que habito.
Talvez essa raiva não seja, de fato, raiva, mas sim, indignação.
Porque eu preciso me dispor sempre, sempre e sempre, no papel de compreensão e consideração?
Se eu entendo que em uma relação, em suas diferentes natureza, ambos os lados precisam se dispor a ter consideração e compreensão com o outro.
Se eu entendo que fazer isso não significa que se deve passar por cima de si mesmo para corresponder ao anseio do outro.